quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Um Argumento Mentiroso


Um Argumento Mentiroso

A mãe, muito irritada com o filho que passou a noite de sábado para domingo fora de casa, gritou assim que ele chegou:
— Onde você se meteu, menino?
A pergunta era apenas força do hábito, pois ela já sabia onde ele estivera, já que algumas mães são melhores que qualquer detetive de ficção.
— Eu disse que ia na da casa do Sérgio, ué! — respondeu o garoto, não tão direto como o texto sugere, pois gaguejou, tremeu as palavras, truncou a sintaxe, tudo que se faz quando se percebe que o outro sabe que uma mentira será contada.
— Mentiroso! — gritou ela, dando soquinhos nas costas do filho adolescente, que tentava fugir dela. — Eu sei que você tava no baile funk, safado!
— Para, mãe — pediu ele, voz firme, voltando-se para ela. — Eu tava no baile sim.
— Você mentiu pra mim?! — na voz dela um tom de decepção.
— Você também mentiu.
Ela ficou pensativa.
— Menti? Quando?
— Quando disse que Papai Noel existia.
Houve silêncio. Depois ela foi para um lado, e ele para o outro.




 

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