sábado, 2 de fevereiro de 2019

Histórias Passageiras



Histórias Passageiras

A vida é feita de coisas estranhas, de pessoas estranhas e de fatos estranhos. É tanta estranheza que eu começo a me estranhar também.
Há anos pego este mesmo ônibus para voltar para casa. É raro eu tomar outro, mas isso acontece, e é sempre quando o professor nos segura até mais tarde na sala de aula ou quando nos libera mais cedo. Sempre me sento nos últimos bancos, não sei por que razão, pois balança muito, e isso me incomoda um pouco.
Hoje é a última vez que vou voltar para casa neste coletivo, ou melhor, pode acontecer de eu pegá-lo outras vezes, mas não rotineiramente como fiz durante esses três anos que durou o meu curso na Universidade.
A maioria das pessoas que está neste ônibus nem se conhece, mas tenho certeza de que cada uma delas carrega consigo uma história. Tem um homem que sempre senta na frente, numa cadeira após a catraca. Ele entra, senta, encosta a cabeça no vidro e dorme. Deve descer no final, eu acho; por isso, fica tranquilo, sem medo de passar do ponto. Como será a vida dele? Será que é casado? Será que tem filhos? A vida dele pode ser de tantas formas, mas já que eu não sei como é, imagino. Entretanto, se cada pessoa pudesse contar a sua história, eu encheria essa folha e talvez outra, e outra…
Eu também tenho a minha história. Será que alguém nesses três anos ao menos pensou nisso? Não sei dizer, mas creio eu que sim.
São tantos rostos, e eu já decorei todos, mas há sempre um novo, que por ventura saiu mais cedo ou mais tarde de algum lugar, assim como acontece, às vezes, comigo, e me torno um estranho para um monte de estranhos. Pelo menos neste ônibus, o meu rosto já é familiar: sou um estranho conhecido de todos; isso não é engraçado e até mesmo triste?
Bem, já não importa tanto o que sinto, mas sim o que vou sentir daqui por diante. Levanto-me do banco onde estou sentado, olho para a frente, onde todos estão presos em seus mundos particulares, puxo a corda, ouço o som da campainha solicitando a parada no próximo ponto, e aguardo até que eu possa descer. Quando, por fim, o ônibus para, olho mais uma vez em direção à frente do veículo: é um olhar cheio e vazio ao mesmo tempo. São tantos significados que não consigo ao menos entendê-los… ou me entender. Desço, feliz por um ciclo que se completa e triste por já estar saudoso de uma história que deixo para trás, com o desejo vivo de poder seguir minha vida, pois felizmente o que é bom não dura para sempre, assim como o que não é também acaba. Digo felizmente no caso das coisas boas acabarem porque só elas sendo da maneira que são aprendemos a olhá-las como elas merecem. Essa é mais uma longa história de vida que fica para trás, ou talvez não, pois quem sabe a minha história, nesta jornada da vida, solicite parada e desça no próximo ponto, afinal de contas, na vida, até as histórias são passageiras.   





    





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