sábado, 27 de maio de 2017

Capítulo 8 - O Mistério do Viúvo Maldonha


Raios de sol entravam por uma fresta da janela e iluminavam parte do quarto de Pedro, que acabara de acordar. Mal parecia que uma forte chuva havia caído na noite anterior e se estendido por quase toda a madrugada. Desligou o abajur, que passara a noite toda aceso, e levantou-se, tentando apagar da memória as partículas do sonho que tivera.
Está pegando fogo!, pensou, mas ficou aborrecido só de lembrar que havia sonhado.
As vagas lembranças vinham-lhe à cabeça, e a mais clara delas era o fogo.
Já chamaram os bombeiros?, alguém perguntava, aos gritos.
No sonho, havia uma pessoa gritando fogo, e Pedro saiu de casa para ver o que estava acontecendo. Já na rua, viu carros do Corpo de Bombeiros passarem com suas sirenes ligadas. Tentou lembrar-se de mais algum detalhe, mas não conseguiu. Algo na mente não lhe permitia, feito uma cortina escura que balançava, escondendo o que estava atrás, no palco, aguçando-lhe a curiosidade.
Durante o café da manhã, ele estava tão absorto, que Lívia chamou-lhe a atenção. Nesse momento, uma última lembrança vinha-lhe à mente: era Leandro Maldonha. O velho estava no sonho, encostado a um portão, o rosto complacente, enquanto apontava na direção do bar de John.
— Pai? Pai, você está bem? — perguntou Lívia.
— Hum?! — ele olhou para filha. — Tudo bem, eu só estava pensando num… num sonho… que tive essa noite.
— Sonho?! Você… pensando em sonho?!
Pedro deu um sorriso amarelo; nem ele mesmo acreditava no fato de se distrair pensando em sonhos. Os únicos sonhos sobre os quais achava útil perder tempo eram os que ele denominava projetos de vida, e Lívia sabia muito bem disso.
— É aquele pessoal do bar — comentou ele.
— O que tem?
— Eles ficam falando de sonhos… Falam tanto que acabam nos deixando impressionados.
Lívia pôs-se de pé.
— Que pessoal? — perguntou, caminhando para a sala.
— O Afonso e o Marsílio — Pedro também se levantou e seguiu a filha. — O Viúvo também.
— O quê? — espantou-se ela. Virou o corpo e ficou olhando para o pai. — O velho Leandro fica com vocês no bar?
— Às vezes — Pedro passou pela filha e sentou-se no sofá. — Quero dizer, só nesses últimos dias. Ele é esquisito. Todo cheio de suspense…
— Disso todo mundo sabe.
— Apesar de tudo, ele parece ser boa gente. Não parece ser um… sei lá… algum tipo de psicopata.
— Será? — insinuou Lívia, sentando-se ao lado do pai. — E essa história que o povo conta do desaparecimento da mulher dele?
— Eu nem morava aqui ainda, Lívia. Acho que nem conhecia a sua mãe na época em que isso aconteceu. Isso deve ter uns… trinta anos. O povo fala disso desde que eu e sua mãe viemos morar aqui. Ninguém sabe ao certo o que realmente aconteceu. Há quem diga que ele passou a usar apenas roupas pretas depois que ela… sumiu. Mas de tudo isso a gente já sabe, Lívia. Não é nenhuma novidade. Como também não é novidade que ele é chamado de Viúvo por causa disso tudo. Quando vim morar aqui, ele já era assunto da vizinhança, e o que sei sobre ele é só o que comentam por aí.
— E ela nunca apareceu, não é? E fica um monte de hipótese no ar…
Pedro olhou para a filha com um olhar questionador, mas nada disse.
— Isso daria um bom tema… — pensou ela em voz alta.
Pedro levantou-se e foi até o rack.
— Bom tema pra quê? — perguntou, enquanto pegava um cartão de banco numa das gavetas.
— Ou uma boa matéria…
Pedro riu, voltando-se novamente para a filha.
— Depois o doido é o Maldonha…
— Você está me chamando de doida?
— Não! Claro que não! ― gracejou ele, sorrindo. — Eu vou ao banco. Quer ir comigo? De lá a gente vai ao mercado fazer uma compra.
Lívia pôs-se de pé.
— Espere um pouco… eu só vou trocar de roupa e dar um jeito nos cabelos — disse, enquanto corria em direção à escada.
— Espero por você lá no carro — alertou e, quase gritando para que ela pudesse ouvi-lo, continuou: — Não se esqueça de fechar a porta quando sair!
No supermercado, Lívia não perdia a oportunidade de atacar a seção de chocolates. Pegava os seus preferidos e sorria para o pai, na intenção de comprar dele uma indulgência. Pedro apenas balançava a cabeça, como se quisesse dizer: “Tome cuidado, senão vai engordar!”.
No caminho de volta, ele passou no Texas e acertou com John o que havia gastado na noite anterior, e seguiram para casa em seguida.


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